quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Na Saúde e na Doença

[…] de hoje em diante: para o melhor e para o pior, na riqueza e na pobreza, na doença e na saúde, para amar-te e honrar-te, até que a morte nos separe […]

Com a União Europeia, veio de braço dado o Euro, e com esses alegremente um jovem Portugal Democrático casou.
A nossa Europa tinha passado por duas grandes privações internas, duas guerras mundiais que destroçaram a produção e fizeram potenciar enormemente os sacrifícios pessoais dos povos.
Portugal ficou à parte, mas sofrendo a sua quota-parte de atraso pela ligação comercial da Europa com o Resto do Mundo e, sem esquecer também, teve uma longa e descontrolada guerra além-Mar.
Da necessidade de uma Europa destruída mas maravilhosamente atraente, veio a necessidade de um casamento para impulsionar a mútua ajuda, entre recém-casados. Estados estes, sempre com uma individualidade marcada de nacionalismo, tinha tudo para dar asneira.
Comecemos com o auto-de-contrição, a democracia trouxe o fim da guerra colonial, prosperidade e, com o casamento com a União Europeia, o maravilhoso poço de moedas do “Tio Patinhas”, fundo e pressuposta ideia de fonte inesgotável de juventude… Mas, neste casamento, em que esta infantil democracia muito apaixonadamente mergulhou de corpo e alma, esqueceu que o crescimento, através da construção, implica não faltar recursos financeiros, que a política de serviços só é boa se os outros estiverem dispostos a abdicarem dela. E com o Euro, perdemos a nossa oportunidade de enganar a produção nacional e o consumo interno, do que é Português é bom (…, bem eu quero mesmo dizer que), com a agilidade cambial, o produto Português é o único suficientemente barato nessa mesma inflação.
Contudo, a União Europeia, mais matreira e andar daquela mulher madura mas terrivelmente sexual no auge dos seus 40, fizeram o favor de dar à jovem e inculta Portuguesidade, prendas de enamoramento no seu mais recente casamento, encheram o bolso, não aplicou na nossa educação, numa produção de excelência, mas sim no - easy way of life - de luxos, expos e auto-estradas, e, sempre que possível, fazendo transparecer a bela União, em letreiros grandes.
Mas a Europa não é nova, muito menos o core central, e decidiu então dar um pouco de maturidade ao jovem Portugal, um Plano de Estabilidade e Crescimento, uma redução da mesada e para ajudar os mercados financeiros gananciosos e com um agressivo advertising, e notações de risco de gente adulta e responsável…
Fizemos birra, gastámos tudo o que tínhamos e o que não tínhamos, o vizinho desconhecido chamado de Mercado foi financiando a dependência de vacas gordas para a construção, e afins. Até aquela mulher madura que se exibia com a elegante Portugalidade Juvenil e muito à macho, que nem os garanhões lá do ginásio, fartou-se da sua infantilidade.
Abandonado então Portugal, está com o peso todo nas costas de dívidas, muitas delas de cartão de crédito estampado de uma rosa sensual que, ora foi rosa, ora vermelha.
O peso, esse, prejudica aquela coluna tenrinha, e cria giba. E olhando à distância uma Europa que já não é tão atraente, muito mais rabugenta e com aquela mórbida egocentricidade de sempre, embora outrora esquecida. Há, hoje, um olhar triste e resignado, de um amor que pois, por mais que se negue, já há muito acabou e só sufoca um jovem modo Português de ser…

Emanuel Vieira

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