quarta-feira, 6 de março de 2013

Afinal a culpa é do povo…



Afinal o culpado de Portugal (supostamente) não ter dinheiro, do crescente desemprego, da fome, da enorme corrupção que sai sempre a ganhar, é do povo. Pois segundo os grandes intelectuais que andam por ai, o povo português, ou seja, tu e eu, é um povo vadio que só quer viver de apoios, que só quer fazer manifestações, passar tempo na internet, que quando consegue arranjar emprego tem a ousadia e o horror de querer um salário que dê para pagar a suas despesas, pôr comer na mesa, enfim fazer as coisas que qualquer cidadão europeu gosta de fazer. Segundo estes intelectuais um cidadão exemplar quer que haja mais sacrifícios, um cidadão exemplar não tem direito a ter a suas despesas. E se já as tinha no passado é bom que ele as pare de pagar e que receba bem e simpaticamente os executores de penhoras, os homenzinhos das Câmaras Municipais e o homenzinho da luz quando lhe entram pela casa a dentro, porque afinal ter a suas próprias despesas os seus próprios compromissos é um enorme desrespeito pelo país é ser antiportuguês. Um cidadão exemplar deve sorrir e agradecer e sentir-se concretizado por grande parte do seu salário ir para bancos falidos, quer dizer ir para o salvamento da pátria ou Portugal (para não haver confusões com o que se dizia durante o Salazarismo).
Continuando na mesma linha de pensamento, segundo esses intelectuais um cidadão exemplar deve de adoptar uma dieta de fotossíntese, pois não pode ser igual aqueles milhões de vadios que andam por ai que escolhem pagar às finanças em atraso porque querem ter pão e outro tipo de comer na mesa. Um cidadão exemplar deve de pedir desculpa de joelhos ao Primeiro-ministro por ter o terrível hábito de não trabalhar gratuitamente e de descansar pelo menos um dia por semana. Meus caros como é que possível gerir um país como Portugal se há poucos cidadãos assim, é impossível agradar aos alemães e aos Barrosos da nossa querida Europa com o número de pessoas que andam por ai querendo viver em espaços que tenham quatro paredes e um tecto, por amor de deus deviam todos seguir os exemplos do sem abrigos ou quase completamente porque ninguém quer que um monte de pessoas vá dormir para as ruas e fique sem trabalhar, pois afinal, quem é que iria pagar os impostos e ser um burro de carga?
Já desde do pós-guerra liberal em Portugal que somos governados e controlados por este tipo de intelectuais, e desde do tempo que existe divida externa portuguesa que a solução para a pagar é sempre a mesma; quando alguém sugere outra solução a quem está no poder, essa pessoa que está no poder coloca as suas mãos nos ouvidos e como uma criança birrenta faz: “nanana... Não oiço nada!...nanana”. No fim de contas a culpa é do povo português, não pelas razões que os tais intelectuais enumeram mas sim por permitir que os mesmos ainda tenham demasiado poder para fazerem aquilo que quiserem e bem entenderem com as nossas vidas e saírem impunes.

Miguel Sousa Alves

segunda-feira, 4 de março de 2013

Credibilizar as Juventudes Partidárias




O país, e o mundo em geral, há muito que não se revêm nas figuras político-partidárias que são alvo de destaque nos mais diversos países. As juventudes partidárias não escapam aos rótulos colocados pelo povo a estes agentes políticos e até vêm alguns acrescentados, o mais conhecido o título de “boys”.
Escrever um texto, em jeito de reflexão, sobre este tema é algo que se revela difícil pela proliferação de “jotas” no nosso País, mas sobretudo porque dentro de cada uma destas instituições existem divisões, muitas vezes ideológicas, à semelhança dos partidos “seniores”, que em nada contribuem para mudar a opinião pública acerca deste tema. É normal existir um confronto de ideias e opiniões, no entanto, o que não é normal, é observar-se, por exemplo, jovens com mentalidade de esquerda numa juventude partidária de direita, ou ao contrário. Por vezes até vemos militantes com ideologias de extrema-direita ou extrema-esquerda numa juventude partidária, cujo partido sénior pertence ao arco de governação (PSD/CDS/PS). Esta é uma das críticas que se costumam fazer as jotas: a inexistência de uma identidade fixa que se baseie na ideologia do partido que defendem. Contudo, algumas destas instituições têm feito um esforço para propiciar uma forte e adequada formação política aos seus quadros dirigentes, como também aos militantes de base, numa clara tentativa de desmistificar o conceito de “jotinha”: um jovem que canta, grita, salta e empenha cartazes sem saber o que defende e/ou porque o defende. O capítulo da formação política é um dos mais importantes na vida de uma juventude partidária. Muitos dos quadros que integram estas estruturas futuramente participarão, com responsabilidades políticas, na construção do nosso País, das nossas regiões, municípios e freguesias. Ora aqui reside outro problema: muitos daqueles que transitam para os quadros dos mais diversos órgãos com responsabilidade política vão com um desconhecimento total do órgão onde vão desempenhar essas funções. Muitas vezes até são nomeações das “jotas” para integrarem as listas do partido. E estes são os chamados “boys”. Não há problema nenhum em colocar jovens quadros a desempenhar funções públicas, é preciso haver uma constante renovação nos quadros do nosso País, mas não podem ser jovens impreparados a desempenhar essas funções. E há jovens capazes nestas estruturas partidárias, o que é preciso é uma consciencialização da parte dos dirigentes das “jotas” que o que importa não é o último nome, nem o peso da carteira, mas sim a competência, o trabalho efetuado e a capacidade de pensar mais nos outros do que neles próprios quando desempenham funções. Mais um passo para credibilizar as Juventudes Partidárias.
Finalmente, quero aqui abordar uma questão que nos últimos tempos tem sido discutida: a falta de capacidade das “jotas” de se distanciarem de uma ou outra posição tomada por parte do partido perante o qual respondem, quando esta revela efeitos negativos para a juventude. É mais fácil para uma estrutura deste cariz servir de veículo de transmissão de ideias do partido junto da juventude, do que servir de apoio à população mais jovem, trazendo os seus problemas e necessidades aos partidos políticos. No entanto, essa não deve ser a função de uma juventude partidária. Acima de tudo, deve estar o interesse daqueles que é suposto representarem os jovens. Acima de tudo, devem manifestar que o rumo tomado, no que diz respeito a políticas de juventude, não é o mais correto. É difícil, sim é, mas haveria um maior respeito pelo trabalho das “jotas” se as coisas fossem desta maneira. Teríamos uma juventude mais capaz de pensar por si própria, de enfrentar os problemas que a afligem e de mostrar que é capaz de melhorar as perspetivas futuras deste país. 
O País precisa de juventudes partidárias que coloquem os interesses da juventude desta nação acima de qualquer outro. A juventude portuguesa precisa de “jotas” que resolvam os seus problemas, e isso só se consegue se houver uma clara noção do que deve ser pertencer a uma instituição deste tipo: servir a juventude.


Maurício Ornelas